Poesia e Veneno

Poesia sem regras


terça-feira, 9 de novembro de 2010


PÉ NA ESTRADA

Vontade de pegar a estrada, a namorada e nada mais.
Vontade de sair no mundo sem rumo certo, sem direção.
Vontade de viver a vida de cartão postal, de praia em praia, de som em som.
Vontade de deixar pra traz a monotonia, a vida chata, tão mal vivida, tão mal contada.
Vontade de tirar nas cartas a sorte grande, de caminhos incertos de imprevistos gostosos, de pequenos detalhes, de grande valor...

sábado, 6 de novembro de 2010


Lindos olhos grandes


Olha o espelho
Veja você
Será que sou eu
Quem mais pode ser?!

Tatuada em meu peito
Cravada na alma
Chama que arde
Uma voz que me acalma.

Olha direito!
Do lado esquerdo
Ou feche os olhos e ponha a mão
Escute a voz, ou o coração.

É batucada
É carnaval
Escola de samba
É vendaval

Não sei explicar
Mas sei entender
Os lindos olhos grandes
Me fez reviver.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010


Enquanto isso lá fora


A sociedade se mobiliza pra combater a violência
Enquanto isso os governantes em mais uma conferencia
Americanos usam armas contra o próprio terrorismo
E na tv longa metragem com história do fascismo
Parece pouco, parece louco
Mas a verdade acontece todo dia e você
Fica assustado, traumatizado
E se esconde atrás das grades das mansões
Fica com medo, fica com pena
E não faz nada pra mudar esse sistema démodé
Se refugia, se trancafia,
Fica assistindo a vida passar na tv

Neguinho da favela um dia fez um comentário
Era tão obvio, tava na cara.
Ele dizia que a violência tinha solução
Não com policia mas com educação
Ele pensava que oportunidade tinha que ser pra todos,
Que o sol brilhasse em mais de uma direção
Logo o neguinho divulgou seu comentário
E mais logo ainda tava na televisão
Mais logo ainda era mais que comentado
Não demorou estava fora de circulação
Sumiu do mapa sem explicação
Deram sumiço no cara
Acabou revolução

Neguinho era apenas mais um personagem
Mas a história não era de ficção
a realidade é foda pra quem ta por baixo
Quem ta por cima não quer ver revolução
Um sentimento de revolta as vezes toma conta
Mas violência nunca foi a solução
Democracia não existe
Apenas uma fabula, uma piada
Pois no poder só vai quem tem as costas quentes
Que é esquentada com muita grana
Pois quem não paga não compra o povo

O povo pena e passa fome porque não tem educação
O rico ganha com a má distribuição
Grana do povo que paga imposto e pega ônibus pra trabalhar
Pra sustentar sua família o seu legado
No fim do mês é humilhado... o cara do mercado não quer mais vender fiado
O que fazer quando não se tem o que comer?
O filho chora, mulher reclama
O desespero bate a porta pra valer
O que mais pode acontecer?

Pai de família entrou pro movimento
Não agüentou ser humilhado pelo governo
O que era apenas um distúrbio social
Virou noticia da pagina policial.

Eu queria me chamar Francisco


Não sei como era o mundo em que nasci
nem sei quanto custava nascer
em oitenta e quatro eu era mais um novato
que vinha ao mundo como um boato
Ali na maca mais uma Maria
do lado mais um João
era o momento em que nascia mais um, menos um com o mesmo refrão.
Papai queria me chamar Francisco
seu avo se chamava assim
mamãe não gostou do nome
não quer que chame "Chiquinho"
-Porque não chamar Pedro?
tão fácil, tão bonito.
Papai não queria. - tão fácil, tão quão.
melhor se chamar Fernando
malandro,esperto, filho nordestino andando sem destino,
meio que sorrindo, meio que cretino...
Confesso que chamar Francisco era legal, me cheirava revolução.
"feita pelo Chicão cabra da peste, filho do cão"
do chicote, do violão, do universo paralelo, movimento sindical, do samba mal feito no fundo do quintal a melhor musica do mundo na avenida principal.
Da revolução ao anonimato de vir ao mundo como um boato,
do olho por olho , dente por dente
sem muitos danos sobrevivente.
Pois então foi Fernando que prevaleceu, mamãe teimou, mas papai convenceu.
Mas eu queria me chamar Francisco...
mente brilhante, "bichu du matu", inteligência, liderança, a boa musica, a hierarquia, a boa vida o passado glorioso...
quer mesmo saber...
Monotonia se chamar Francisco e nascer com o destino pronto
Vou mesmo me chamar Fernando,
sem muita grana, sem muita fama, deitando e rolando por baixo dos panos, meio fora do tempo, talvez fora do prumo com o destino a ser feito sem o peso do nome...
eu queria me chamar Fernando

quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Ela é como eu


Ela é como eu:
Sem beira nem eira,
Sem ter nem porque.
Ela é como eu.
Não pensa
Só vive
Querendo sempre mais
Sempre além do permitido
Ela é como eu
E gosta do mundo
Quer rir do absurdo
Extrapolar por inteiro
Vencer os limites
Ela é como eu
Alimenta-se de sonhos
E ama o estranho
E quer se dar bem
Sempre se da bem
Ela é como eu
Não quer compromisso
No máximo abrigo
Um ombro amigo
Ela é como eu
Só quer jogar bola
Fugir da escola
Fumar um cigarro
Ganhar um carinho
Ela é como eu
Que mente
Se engana
Que finge que é forte
Mas no fim das contas é frágil demais
...E no fundo, no fundo...
Ela é como eu
É meio manhosa
Engana, disfarça.
Pensa até que tem asas e pode voar
No final das contas
Decola, desaba.
Sacode a poeira
Se entorpece e embriaga-se
Pra não se encontrar
Ela é como eu.

Violência


A violência toma nossos corações.
A vida é violenta, é estúpida.
Mal cabe a violência em tão pouco espaço que nossas cabeças vazias destinam a ela.
A violência se manifesta por ódio, por amor, ira, rancor.
Sem ter nem porque, vem e se faz onde nada se propaga ou se indaga.
Mas nem por isso o silêncio se faz menos violento.
Nem por isso o choro de uma criança recém nascida se faz menos violenta.
Mas sim. Atormenta a alma e se torna violência aos ouvidos mais atentos que sofre a violência que não se percebe a olho nu.
A violência das águas, dos ventos, da seca.
A violência da falta de violência.
Violência por irreverência, imaginaria, sem pudor.
Violência desconhecida, famosa, celebre, fúnebre, anônima, eufórica, sátira...
Humor violento, amor violento. Todos violentos. A mãe, o pai, o irmão.
Por amor, sem motivo, sem objetivo ou adjetivo.
Sem graça sem sal. Doce como a cana amarga como o fel
Violência. Violação do direito comum a todo ser...

BARULHO

Barulho, barulho.
Barulho que vem
Barulho de trem
Barulho que irrita
Barulho que intriga
Barulho que faz vomitar
Que faz ir e voltar
Não me deixa dormir
Não me deixa sentir
Não me deixa sorrir
Não me deixa fugir
Barulho, barulho.
Entulho, barulho, tumulto.
Silencio, silencio.
Alivio, alivio.
Canção de ninar
Que vem embalar
Que vem acalmar
As ondas do mar
Barulho, barulho.
A tropa chegando
O time jogando
Avião de passagem
Amigo chegando
barulho, barulho
mulher fofocando
a feira acabando
o transito parado
mendigos aglomerados
silencio da paz
crianças dormindo
os carros dormindo
barulho se indo...
cachorro em repouso
espirro contido
buzina entupida
corneta entupida
o bumbo calado
barulho, silencio
silencio, barulho
não sei qual me irrita
não sei qual me excita
Não sei se faz bem.

AZUL

O livro é azul
O céu é azul
O mar é azul
E os olhos também.

O livro me ensina
O céu me alucina
O mar me fascina
E os olhos também

O livro é tão culto
O céu é tão grande
O mar é tão lindo
E os olhos também

O livro queimou
O céu desabou
O mar se secou
E os olhos também.

Tantos


Tanta informação assombra pobres almas,
que insistem e descansa sob a sombra da santa ignorância.
Tanta euforia assusta pobres homens,
que por tão inseguros preferem não opinar.
Tanta honestidade deixa em pânico o pobre povo,
que por tão mau acostumado vai as urnas por obrigação de votar.
Tanto movimento assusta pobres moradores de uma pacata cidade
por onde um raly ira passar.
Tantas palavras assombram pobres frases,
que por tão quanto o impacto é sentido elas insistem em não se completar.
Tanta lucidez apavora pobres loucos,
que mesmo assim sorriem.
Tantos porquês assustam padres, poetas e professores
que vêem a duvida aflora até de “criança neném”.
Tantos “tantos” me assustam se você quer saber,
Quando a tanto a fazer, tanto a querer e não podemos esperar.


Abrigo na noite

Não.
Isso não é uma carta de um suicida
Talvez um desabafo,
ou quem sabe um pedido de socorro
de quem se perde todas as noites nesse mundo labirinto.

Não quero chorar nem me lamentar
mesmo porque lágrimas também não há.
só queria um colo
um abrigo
um lugar pra me esconder de mim mesmo.

Eu sinto dor.
Eu tenho amor.
Não tenho alvo.
Não tenho mira.

Eu tenho você que não me tem.
Toco você que não sente minha respiração.
Não sente o pulsar do coração do herói ferido
que derrama lágrimas de sangue
sem nenhum motivo.

Eu tenho tudo sempre
de vez em quando
quase nunca
nada

As vezes eu bebo e fumo.
As vezes gosto de sexo seguro sem camisinha.
Gosto de rock e samba.
Também gosto de futebol, domingo as quatro na TV.

Mas quando chega a noite
Ah! A noite é minha namorada,
minha aliada,
minha vitória e minha derrota.
A noite é onde eu me perco e encontro abrigo
sem a segurança das grades reais.

O resto



Dela só restaram as lembranças
e a voz naquele velho gravador
onde nos divertíamos com um samba
em hora de intenso amor.

Dela só restou a saudade
de ficar um pouco mais,
das loucas brincadeiras
embaixo dos lençóis.

Dela só resta a vontade de querer estar,
de querer tocar, de poder beijar.
De ter e não poder negar
aquele velho e novo amor.

Dela só resta um guarda roupas vazio
de seus vestido floridos
que exalavam vontade de viver ...
e um perfume vagabundo que deixava marcas por onde passava.

Dela nada restou e aqui estou eu.

Com as lembranças,
o guarda roupas
e o gravador
Sem ter porque sorrir, chorar, ficar ou partir.
Dela nada restou... e o resto dela sou eu.

O café

Eu tomo café e fico ligado, pensando na ida, na vinda, na volta.
Eu faço meus cálculos, invento história, me lembro de coisas e perco a memória.
Eu tomo café e mato meus sonhos, eu perco meus sono e faço outros planos.
Eu tomo café e tomo coragem, pra pensar no futuro e pescar meu passado.
Enterro as mentiras, revejo verdades.
Eu tomo café à insônia me invade.
A chama que arde reacende em mim, revivo um passado que nunca foi meu, revivo a esperança que nunca esqueci.
Eu tomo café e bebo o pecado e aquela saudade nos olhos da foto que intriga até hoje o peito frustrado.
Eu tomo café e me perco em meu quarto, com a porta e janelas fechadas só me restam as brechas pra tentar respirar.
Eu tomo café e o café me envenena, me abre os olhos, entorpece, aliena.
Eu tomo café e o café me alucina, me leva pra longe, me trás pra um abraço, me faz companhia e me deixa sozinho.

Herdeiros do Fim do Mundo


Herdamos o caos construído para nós.
Herdamos o fim daqueles que não viram o inicio.
Herdamos a indiferença que sobrou das melhores amizades.
Herdamos a calamidade que restou de toda prosperidade.
Herdamos as mentiras repetidas, que de tanto repetir virou verdade.
Herdamos o mau humor dos melhores humoristas, a ira dos deuses da paz e o alcoolismo dos poetas.
Herdamos a preguiça dos mais capazes.
Herdamos livros que não sabemos quem escreveu.
Herdamos praticamente tudo, quando tudo era praticamente nada.
Herdamos a fome dos mais fartos.
Herdamos também a pobreza dos mais ricos.
Herdamos o câncer, o ranço, o embaraço.
Herdamos o fim de tudo, se é mesmo que o fim é hereditário.
Herdeiros do fim do mundo... talvez crianças escondidas dentro do armário.